A Superação do agro

O protagonista da vez é o agronegócio que está abastecendo muitos países com a sua produção alimentar. A carne novamente se destaca entre um dos itens mais comercializados durante a pandemia de Covid-19

agronegócio brasileiro vem sendo tratado como o protagonista de um novo mundo que estamos vivendo em decorrência da pandemia de Covid-19. Tudo muito novo, o assunto está sendo tratado por profissionais de medicina, empresários, jornalistas, dentre outras profissões. Mas afinal de contas podemos dizer que o coronavírus veio para despertar o potencial do agronegócio? Recentemente, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina afirmou que países que colocavam restrições na importação de alimentos no Brasil passaram a fazer consultas ao Ministério pedindo abertura do mercado. Ainda é muito cedo para dizer quando será a pós-pandemia, mas a ministra chegou a garantir, que “essa deve ser a grande oportunidade para a agropecuária brasileira. Muitos países temem pelo desabastecimento alimentar de seus povos no futuro próximo”, destacou a ministra.
Um exemplo é a China. De acordo com informações do site Poder 360º, apenas 14,3% do território do gigante asiático se presta à agropecuária. O restante tem uma geografia montanhosa, desértica e gelada. A China tem 20% da população mundial com apenas 7% das terras aráveis do planeta. Realidade contrária do Brasil. Nos últimos 40 anos, a área das lavouras chamada temporária direcionada aos grãos e cereais quase dobrou. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no período de 2000 a 2016, foi à produtividade que respondeu por 76,4% do crescimento do produto.
Em uma publicação, o engenheiro agrônomo e doutor em Administração, Xico Graziano, declarou que o agro brasileiro se mantém como um grande potencial. Daí vem o enorme crescimento do setor.
“A fronteira agrícola do Brasil ainda se expande incorporando solos virgens. A população se incomoda com o desmatamento. Mas, respeitando-se absolutamente o Código Florestal, existe um estoque aproximado de 10 milhões de hectares com elevada aptidão agrícola a ser desbravada, o que significa próximo de 1,6% das florestas nativas, no cerrado principalmente”, diz o engenheiro agrônomo.
Ele declara que o principal vetor de crescimento dos cultivos surge na transformação de pastagens, normalmente degradadas, em lavouras superprodutivas. “É aqui que reside a grande vantagem comparativa do Brasil com relação aos demais países”. Sobre a condição tropical do País, é sabido que é possível colher até duas safras consecutivas no mesmo terreno e aproveitar a terra na sequência para o pastoreio intensivo. Esse modelo, único no mundo, se denomina iLP, integração lavoura-pecuária e vem sendo muito utilizado para alavancar a Pecuária nacional. Citado como exemplo está o plantio da soja que tem a colheita prevista entre março e abril. Logo em seguida passa o espaço para o plantio do milho que se dá em entre os meses de maio e junho; saindo o milho, em 30 dias a pastagem, que foi semeada junto com o cereal estará exuberante para o pastejo da boiada. Em 90 a 120 dias, o gado sai e se retoma o ciclo que é um privilégio brasileiro.
Xico fez questão de citar “A Rodada de Doha”, que se estende há anos e foi iniciada no Qatar, em 2001, durante a IV Conferência Ministerial da OMC.
“O Brasil luta desde a Rodada de Doha para ter acesso a relevantes mercados agrícolas. Agora, com medo de ficarem sem comida no prato, inverteu-se a lógica. São eles que querem abrir suas fronteiras. Correm atrás de nossos alimentos. Épocas de crise forçam o pensamento estratégico. Lá, no horizonte, se enxerga o celeiro do mundo. Verde-amarelo”, destacou o doutor.
Pecuária. Durante a Expogenética 360º foram realizados vários debates técnicos e, como já esperado, foi levantado por especialistas do setor pecuário “o que o agro pode esperar após a Covid-19”.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Rivaldo Machado Borges Júnior “o agro não para”.
“Temos sempre ouvido e falado sobre a importância do setor em momentos como esse, e, inclusive, a frase: ‘O Agro não para’ se tornando o nosso maior lema neste momento. Seguimos como a principal engrenagem da economia nacional para que os impactos dessa pandemia fossem amortecidos para o setor produtivo, e para toda a população, de forma geral. Aliada a esse trabalho incansável no campo, uma das marcas da nossa entidade é o pensamento otimista. Seguimos confiantes de que em breve essa pandemia seja apenas uma lembrança histórica, e o que esperamos para esse momento é uma valorização ainda maior para esse setor que é a moeda forte do nosso país, mesmo em momentos mais difíceis, como o que estamos enfrentando agora”, frisou.
O gerente comercial da ABCZ, João Gilberto Bento, que é zootecnista, pós graduado em Marketing e Gestão Ambiental, foi o mediador do debate técnico que tratou dos novos rumos do agronegócio depois da pandemia mudando o cenário econômico, impactando a vida da população mundial. “Pela natureza do agro, se manteve mais uma vez firme na economia se mantendo estável nos últimos quatro meses. Com o crescimento das exportações e do auxilio do Governo Federal, que beneficiou milhares de cidadãos de baixa renda sendo injetado na economia cerca de 50 bilhões de reais por mês com o pagamento desse voucher,o consumo de alimentos aqueceu e, em especial, das carnes. Quando teve início o pagamento deste benefício. A população estava reclusa e não havia espaço para gastar em outros setores,, por isso se investiu mais na alimentação”, disse Bento.
Sobre o mercado externo, ele afirmou que o forte impacto da China, que passou a comprar mais fortemente a carne brasileira. “A China foi um dos países menos impactados no quesito logístico, ao contrário de outros países. Embarques em navios foram feitos normalmente, um volume maior do que o ano passado. Momento de surpresa para o setor. Nitidamente percebemos que o nosso produto que está seguro por vacinas, está preparado para enfrentar pandemias globais, como a Covid-19”, declarou.
O gerente fez um alerta sobre o Mercado Interno. “A segurança alimentar está sendo exigida cada vez mais e será um fator determinante para que o Brasil mantenha a liderança do mercado mundial. As barreiras sanitárias funcionam como barreiras comerciais e como é sabido, o Brasil é um grande competidor do mercado mundial e por isso, o mundo está de olho para qualquer problema. Toda a atenção no entorno desse assunto é importante”, completou.
Sobre 2021? Bento declarou que a taxa de câmbio praticada se mostra favorável à exportação. Segundo ele, o preço dos produtos brasileiros permitiu uma competitividade dos nossos produtos, o que de acordo com ele, também foi responsável pelo “sucesso dos nossos negócios nesses últimos meses”.
“Sobre 2021 só tenho uma afirmativa: metade da soja já está comercializada para 2021, por isso, as nossas expectativas são as melhores possíveis”, ressaltou.

Leite e Corte

O consultor de agronegócio Manfred Folz falou durante a Expogenética 2020, sobre o posicionamento do agro, tanto para a pecuária de Corte quanto para a pecuária Leiteira, durante a pandemia que estamos vivendo. “A agronegócio não pode se dar ao luxo de parar! Todos sabemos disso eu entendo que o Agro brasileiro está enxergando uma janela de prioridades. Temos que aproveitar o momento ocupando mais espaços mostrando o que já fizemos de bom e o quanto já melhoramos”, diz. 

Leilões

O mercado de leilões virtuais durante a pandemia apontou um crescimento de mais de 300% entre os meses de abril a julho de 2020. O isolamento social e o acesso a tecnologia foram os fatores determinantes para esse aumento. 

De acordo com Ademir Jovanini Augusto Filho, proprietário da Premier Assessoria Pecuária, esses modelos de leilões são considerados sustentáveis, mas o evento presencial, continua sendo uma necessidade. 

“Esse novo formato já é uma realidade, é um modelo sustentável e pé no chão. Mas, não podemos ir contra a escolha da maioria. Os leilões presenciais voltarão assim que possível com força total. É uma necessidade do setor. A escolha touros e fêmeas de pistas, bem como os animais de elite tem espaço. Essa a é minha visão”, observa. 

O diretor da Central Leilões, Lourenço Campo também comemora o momento. Segundo ele, o mercado se comportou muito bem e o público aceitou essa modalidade de leilões virtuais. “A pecuária passa por momentos primorosos. O novo momento nos fortaleceu muito. Para uma pós-pandemia, minha expectativa é que os leilões, principalmente aqueles já consagrados pela tradição do presencial, continuará. Principalmente com o objetivo de ser um ponto de encontro para visitação nas fazendas e mesmo para fortalecer os relacionamentos”, pontua. 

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