Um novo normal

Presidente da maior associação de criadores de Zebu do mundo, a ABCZ, Rivaldo Machado Borges 'aposta do novo momento e no novo formato de eventos digitais

pecuarista, empresário e atual presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), de Uberaba (MG), Rivaldo Machado Borges Júnior já está acostumado com desafios e um deles foi a realização ExpoGenética 360º, o segundo maior evento promovido pela entidade, ficando atrás apenas da ExpoZebu, que este ano foi realizado no formato digital. O que poderia ter sido uma tragédia se transformou em um dos maiores feitos já realizados dentro da pecuária mundial. O sucesso foi tão grande que o presidente já prometeu que os eventos realizados pela ABCZ, principalmente a ExpoZebu (que não ocorreu esse ano devido as restrições em decorrência da pandemia) e a própria Expogenética, terá seu formato digital mantido. Otimista, Rivaldo considera o momento propício para um novo mercado positivo e como ele mesmo diz: ‘O Agronegócio não para!’

 

PB – O novo mundo fez a ABCZ mudar o formato e digitalizar a ExpoGenética 2020. Com o tema “360º do Melhoramento Genético”, os resultados apresentados superaram as expectativas atendendo uma gama de pessoas maior do que as edições presenciais. Podemos dizer que a Expogenética permanecerá com as edições virtuais?
RMBJ –
Já imaginávamos que a ExpoGenética 360º movimentaria bastante o setor, mas todas as nossas expectativas foram superadas. E o melhor foi que surpreendemos e superamos também as expectativas de quem confiou nesse novo formato. Juntos, fizemos uma edição histórica. Já sabemos que o virtual veio para ficar para as próximas edições. Com o fim do isolamento social, pretendemos trabalhar com os dois formatos: virtual e presencial, aumentando ainda mais as possibilidades de negócios e, principalmente, de desenvolvimento das raças zebuínas.

PB – Durante muitos anos vivenciamos o glamour dos leilões presenciais. Antes mesmo da pandemia da Covid-19 já era comum a participação dos pecuaristas em leilões virtuais, o que já estava sendo bem aceito. Durante a Expogenética, os números surpreenderam. Qual sua avaliação sobre a realização desses eventos no formato virtual.
RMBJ –
Como você mesma disse, antes mesmo de pensarmos em feiras e outros eventos virtuais, os leilões nesse formato já eram uma realidade, atendendo com bastante eficiência alguns perfis de remates. A qualidade dos animais apresentados e, claro, o bom momento do mercado garantem os resultados, independente da modalidade. Mas, da mesma forma como pensamos sobre as feiras, não acredito que os leilões virtuais possam substituir totalmente os presenciais. Os leilões presenciais são bons pontos de encontro, que movimentam o setor além dos negócios realizados aí. Esperamos que logo possamos voltar com essa modalidade também.

PB – Avanço. O rebanho brasileiro é composto por 86% de gado Zebu, mas como o senhor mesmo afirmou, recentemente, é preciso ir além, não apenas a pecuária zebuína, mas a pecuária de maneira geral. Quais seriam as ações realizadas em prol da pecuária nacional?
RMBJ –
O avanço da pecuária e da representatividade do Zebu no rebanho nacional estão diretamente ligados ao melhoramento genético das nossas raças. E essa é nossa grande bandeira. Se temos animais que conseguem aumentar a produção, em um manejo cada vez mais econômico e sustentável, não abrimos espaço para outras raças que tem mais dificuldade para o desenvolvimento em um clima como nosso, por exemplo. Atualmente, todas as ações desenvolvidas pela ABCZ buscam oferecer ferramentas para que os criadores consigam melhorar seus rebanhos, independentemente do perfil da propriedade. Temos, por exemplo, o Pró-Genética, que de forma geral, tem como objetivo democratizar essa genética melhoradora, facilitando o acesso de pequenos e médios produtores rurais a animais comprovadamente melhoradores. Temos também o PMGZ Comercial, com foco nos rebanhos comerciais. Temos o PMGZ Genômica, que auxilia o criador a acelerar o processo de identificação dos melhores animais e, consequentemente, utilizar de forma ainda mais efetiva aquela genética. Enfim, temos trabalhado bastante para promover o melhoramento genético das raças zebuínas e isso, naturalmente, irá aumentar ainda mais a nossa participação na pecuária brasileira e mundial.

PB – Prioridades. O que os associados podem esperar do seu triênio?
RMBJ –
Nossa bandeira é construir uma ABCZ com Força Total no Campo. É levar desenvolvimento, tecnologia e negócio ao nosso associado porteira adentro. Comprovamos isso com a ExpoGenética, onde possibilitamos que os criadores mostrassem seus rebanhos de maneira virtual e, com isso, conseguir resultado na comercialização de seus produtos de maneira generalizada. Estamos trabalhando firme na valorização do Touro PO e na conscientização dos produtores sobre a importância da aquisição do animal com o registro para o melhoramento genético. A tecnologia está mais próxima do que nunca dos nossos associados, através de um forte trabalho de difusão do PMGZ e do PMGZ Comercial, além, é claro, do nosso Pró-Genética que está mais forte do que nunca. A diretoria da ABCZ está muito focada no desenvolvimento da entidade e de seus produtos para garantir resultado para o produtor rural.

PB- À frente da ABCZ, você vem defendendo a busca por novas tecnologias. Quais os projetos relacionados ao tema pode nos adiantar?
RMBJ –
A ABCZ sempre trouxe em seu DNA o investimento em tecnologias e novidades, e isso pode ser percebido ao longo dessa história de mais de cem anos em prol da pecuária brasileira. Em nossa gestão, claro, não tem sido diferente, e esses investimentos não estão em projetos pontuais, mas em todas as atividades desenvolvidas pela nossa entidade. E isso pode ser percebido em ações mais simples, desde a recente melhoria que fizemos em nossa rede de internet, para o atendimento ao nosso associado, que nesse período tem acontecido em grande parte de forma remota, passando, claro, por iniciativas ainda mais impactantes, como os investimentos para a implantação do PMGZ Genômica, que já colocou nosso banco de dados entre os maiores do mundo.

PB – Outro destaque da sua gestão é o Integra Zebu projeto voltado à recuperação de pastagem. Conte um pouco mais sobre esse projeto e a importância para a agropecuária brasileira.
RMBJ –
Esse é um projeto que eu, especialmente, tenho um carinho muito grande e a certeza de que será uma das grandes marcas da nossa gestão. Desenvolver uma pecuária ainda mais rentável e, principalmente, sustentável, passa por essa importante missão de recuperar pastagens. Atualmente, 70% das pastagens brasileiras estão degradas, e isso torna o processo de produção ainda mais difícil e oneroso. De forma geral, o que buscamos com esse projeto é oferecer aos nossos associados, informações e embasamento técnico para que essa recuperação possa ser feita. Isso irá acontecer por meio da contribuição de importantes parceiros, entre eles a Embrapa, que, junto com a ABCZ, estarão literalmente no campo transformando essa realidade.

PB – Para os pequenos produtores, quais as ações direcionadas?
RMBJ –
Esse é um questionamento muito oportuno, pois muitas pessoas ainda têm uma visão distorcida, de que a ABCZ é uma entidade apenas para os grandes pecuaristas. Muito pelo contrário! Inclusive boa parte dos nossos associados é de pequeno e médio porte, buscando aumentar a produção, por meio das ações de melhoramento genético. Atualmente, todas as nossas atividades são voltadas ao pequeno, médio e grande produtor rural. A diferença está mesmo é no perfil produtivo da fazenda, que dentro do PMGZ, por exemplo, irá desenvolver ferramentas específicas para o rebanho comercial ou para o gado registrado para seleções genéticas. Como também, é claro, para aqueles produtores que estão começando agora a investir em genética, e vão conseguir por meio da ABCZ e parceiros, adquirir seus primeiros animais melhoradores no Pró-Genética.

PB – “Essa tal genotipagem” foi tema de um debate durante a Expogenética. A expectativa, conforme declarado por você, é que se feche o ano com mais de 100 mil animais genotipados, o que dará um salto no melhoramento genético zebuíno. Quais são as expectativas para esse projeto?
RMBJ –
Na verdade, já batemos essa meta de 100 mil animais genotipados, sendo que essa foi a quantidade avaliações genômicas incluídas em nosso Sumário de Touros 2020/2, lançado durante a ExpoGenética. Trata de cerca de 95 mil animais da raça Nelore e outros cinco mil Tabapuã. Nossas expectativas para esse projeto, claro, é continuar aumentando esse banco de dados, apresentando nas próximas edições do sumário avaliações genômicas também das demais raças zebuínas, o que nos colocará em um lugar de ainda mais destaque no cenário mundial.

PB – Sobre o leite, o que está sendo realizado para ampliar a produtividade. Melhoramento genético desse commodity?
RMBJ –
Com certeza! Temos, inclusive, um departamento de pesquisadores e técnicos específicos para desenvolver as ações de melhoramento genético para as raças zebuínas leiteiras, e temos atingido bons resultados. Para se ter ideia, somando as raças Gir, Guzerá e Sindi, já temos mais de 342 mil animais avaliados pelo PMGZ Leite. E esse não é o único número que comprova o impacto e a importância do programa. Já somamos também mais de 860 mil controles realizados, quase 110 mil matrizes inscritas, e pouco mais de 104 mil encerradas, também considerando todas as raças.

PB – ExpoZebu 2021. O que podemos esperar do maior evento da pecuária mundial, no novo formato?
RMBJ –
Após uma ExpoGenética histórica como a que tivemos agora, as expectativas com a próxima ExpoZebu aumentam ainda mais. Inclusive entre nós! Afinal, estamos falando de feiras com características técnicas diferentes, e mesmo com a expertise que adquirimos com a ExpoGenética, teremos novos e grandes desafios pela frente. Mas desafios nunca foram problema para nós, e já estamos desenhando a próxima ExpoZebu, considerando as diferentes possibilidades que poderemos ter, a partir da evolução do combate a pandemia no Brasil e no mundo. As reuniões estratégicas já começaram, e dessa vez teremos mais tempo para nos adaptarmos, diferentemente do que aconteceu esse ano, quando fomos surpreendidos pela pandemia. Mas uma coisa eu digo com toda tranquilidade: o público pode esperar uma ExpoZebu também histórica e conectada com as novidades e tecnologias disponíveis.

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